Antes de falarmos sobre as nações, é necessário um breve relato do culto ás divindades africanas Orixás, Voduns, Nkises, entre outros.
O Candomblé é um segmento religioso que pratica as tradições, ritos e crenças africanas, trazidos pelos antepassados, cujos rituais tem origens nas culturas Jêje, Ketu, Angola, entre outras nações que fazem parte das religiões afro-brasileiras.
A cultura religiosa africana foi desenvolvida no Brasil através do conhecimento de sacerdotes negros, que com parte de seu povo, foram capturados e escravizados, entre 1532 e 1888.
Com o fim da escravatura em 1888, o candomblé se expandiu consideravelmente, e prosperou muito desde então. Hoje, cerca de 3 milhões de brasileiros declaram ser seguidores das religiões afro, mas acredito que o número seja bem maior, visto que, conforme o local e ocasião os seguidores dizem ser católicos, com medo da discriminação; (os católicos, de acordo com o censo somam 75%, enquanto os que praticam as religiões afro-brasileiras aparecem com 1,5% da população brasileira).
Os negros escravos pertenciam a diversos grupos étnicos, incluindo os Yoruba (Nagôs), os Ewe, os Fon, e os Bantus, que contribuíram não só com seus rituais religiosos, mas, também com a música, dança alimentação, língua e outras manifestações culturais como o samba, capoeira, em fim a contribuição cultural negra é inestimável.
O negro escravizado ao invés de se isolar, aprendeu a conviver entre grupos étnicos diferentes. A religião africana ao chegar ao Brasil sofreu uma transformação imposta pela nova fronteira e pela nova sociedade em transformação. O homem africano foi proibido de praticar seus ritos, no entanto nossos Orixás mais importantes chegaram até hoje com a proteção do sincretismo católico, contudo, o negro conseguiu preservar as crenças étnicas principalmente os ritos de iniciação, os cânticos em linguagens africanas, o culto aos antepassados entre outras tradições. Através do tempo os vários cultos foram se transformando até assumirem uma postura mais ou menos fiel a sua origem.
Os Orixás da Mitologia Yorubá, foram criados por um Deus supremo chamado Olorum (Olóòrun) ou Olodumare (Olódùmarè); já os Voduns da Mitologia Fon ou Mitologia Ewe, foram criados Mawu e Lisa; e os Nkisis (inquices) da Mitologia Bantu, foram criados por Zambi, Deus supremo e criador.
Nações
A palavra nação é usada no candomblé para distinguir seus seguimentos, diferenciado pelo dialeto utilizado nos rituais, o toque (música), identificando também a procedência dos escravos e das divindades.
As civilizações sudanesas, são representadas:
Grupo yorubá representado pelas nações Nagôs:
Ketu
Efon ou Efan
Ijexá
Nagô Egbá
Batuque do Rio Grande do Sul
Xambá de Pernambuco
Grupo daomeanos representado pelas nações Jeje:
Fon
Ewe
Mina
Fanti Ashanti
e outros menores krumans, agni, zema, timini.
As civilizações islamizadas representadas: peuhls, mandinga, haussá, em menor número tapa, bornu, gurunsi ou grunci.
As civilizações Bantus do grupo angola-congolês representados pelos ambundas de Angola (cassangues, bangalas, in-bangalas, dembos), os congos ou cabindas do estuário do Zaira, os benguela com diversas tribos escravizadas.
As civilizações Bantu da Contra-Costa representadas pelos moçambiques (macuas e angicos)
Grupo Bantu ficou reduzido as nações:
Nação Angola
Nação Congo
Nação Cabinda
No comêço todos os escravos vindos da África eram chamados de "negros de Guiné", é que no século XVI a Guiné estendia-se de Senegal a Orange. Esses guinés deveriam ser autênticos bantus.
A escravidão dividiu as sociedades africanas em todos os sentidos. Os africanos com o fim racial das linhagens, dos clãs, das aldeias, das realezas, apegaram-se ainda mais aos seus deuses e ritos, pois foi a única coisa que restou de seu país natal.
Estavam em suas memórias, os movimentos da dança, os toques dos atabaques, a comida ritual, as rezas, que por serem na maioria analfabetos tudo isso eles tinham que manter na memória e relembrar constantemente para que não fosse esquecido.
Fala-se muito da transmissão oral das religiões africanas, mas devemos lembrar que na verdade isso era uma prova de inteligência e boa memória, sendo analfabetos não tinham outra mandeira de transmitir todo o ensinamento que hoje já encontramos em milhares de livros.
O silêncio, segrêdo (calundus) o isolamento armado em quilombos e mocambos era uma esperança de um dia reconstituir na nova terra como era na África, seus ritos, costumes e realeza.
A resistência dos negros ao regime de subordinação ou exploração do qual eram vítimas, encontra uma única porta aberta que é a religião, (só vamos olhar pelo lado religioso), quilombos, confrarias e santidades (locais de reuniões antes de ter o nome de candomblé), foram usados como esconderijo de negros fujões,
Nagôs
O Yorùbá é o segundo maior grupo étnico na Nigéria, incluindo 18 por cento da população total aproximadamente. Eles vivem em grande parte no sudoeste do país; também há comunidades de Yorùbá significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil. O Yorùbá é o grupo étnico principal nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ongo, Osun, e Oyo. Um número considerável de Yorùbá vive na República do Benin, ainda podem ser encontradas pequenas comunidades no campo, em Togo, Serra Leoa, Brasil e Cuba. A maioria das pessoas Yorùbá são cristãs, com Igrejas da Nigéria (Anglicana), Católica, Pentecostal, Metodista, e igrejas Indígenas que são adeptos. Moslems inclue aproximadamente um quarto da população Yoruba, com a tradicional Yorùbá religião respondendo pelo resto. O Yorùbá maioria urbanizou os africanos no período pré-colonial, e tem uma história de cidade-habitação de antes de 500 D.C. As principais cidades de Yorùbá são Lagos, Ibadan, Abeokuta, Akure, Ilorin, Ogbomoso, Ondo, Ota, Shagamu, Iseyin, Osogbo, Ilesha, Oyo e Ilé-Ifè.
Ketu
Candomblé Ketu (pronuncia-se queto) é a maior e a mais popular "nação" do Candomblé, uma religião Afro-Brasileira.
No início do século XIX, as etnias africanas eram separadas por confrarias da Igreja Católica na região de Salvador, Bahia. Dentre os escravos pertencentes ao grupo dos Nagôs estavam os Yoruba (Yorubá). Suas crenças e rituais são parecidos com os de outras nações do Candomblé em termos gerais, mas diferentes em quase todos os detalhes.
Ketu é o nome de um antigo reino da África, na região agora ocupada pela República Popular do Benin e pela Nigéria. Seu rei tem o nome de Alaketu, de onde vem o sobrenome da conhecida Yalorixá Olga de Alaketo. Também indica o nome do povo dessa região, que veio como escravo para o Brasil. Em termos de identidade cultural, forma uma subdivisão da cultura Yorubana. Em geral, membros de origem ketu são responsáveis por boa parte dos terreiros mais tradicionais da Bahia. É a maior e mais popular nação do Candomblé, e a diferença das outras nações está no idioma utilizado, no caso o Yorubá, no toque dos seus atabaques, nas cores e símbolos dos Orixás, e nas cantigas.
Os fundamentos são passados oralmente por sacerdotes de Orixás que são chamados de Babalorixá (masculino) Yalorixá (feminino). Os rituais mais conhecidos são: Padê, Sacrifício, Oferenda, lavar contas, ossé, Xirê, Olubajé, Águas de Oxalá, Ipeté de Oxum e Axexê. Uma outra grande diferença é em relação ao culto dos Eguns; existe um sacerdote preparado para este ritual especifico chamado Ojé ou Baba Ojé, que faz o uso de um ixãn para dominar os Eguns; conforme informações de um antigo sacerdote de Ketu, chamado Albino de Xangô, quem lida com Orixás não lida com Eguns; Já no Rio Grande do Sul, sempre, é o próprio Sacerdote de Orixá quem faz os rituais de Eguns.
Os cargos principais na nação Ketu são:
- Babalorixá ou Yalorixá: autoridades máximas no Candomblé
- Iyakekerê: mãe pequena
- Babakekerê: pai pequeno
- Yalaxé: mulher que cuida dos objetos ritual.
- Agibonã: mãe criadeira supervisiona e ajuda na iniciação.
- Egbomi: pessoa que já cumpriu sete anos de obrigação.
- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas de santo.
- Iaô: filha de santo (que já incorpora Orixá).
- Abian: novato.
- Axogun: responsável pelo sacrifício de animais.
- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques.
- Ogan: tocadores de atabaques.
- Ajoiê ou Ekedi: camareira de Orixá.
Orixás
Os Orixás do Ketu são basicamente os da Mitologia Yoruba.
Olorun é o Deus supremo, que criou as divindades ou Orishas (Orixás). As centenas de Orixás ainda cultuados na África, ficou reduzida à um pequeno número que são invocados em cerimônias:
Exu, Orixá guardião dos templos, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.
Ogun, Orixá do ferro, guerra, fogo, e tecnologia.
Oxóssi, Orixá da caça e da fartura.
Logunedé, Orixá jovem da caça e da pesca
Xangô, Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
Obaluaiyê, Orixá das doenças epidérmicas e pragas.
Oxumaré, Orixá da chuva e do arco-íris.
Ossain, Orixá dos remédios, conhece o segredo de todas as folhas.
Oyá ou Iansã, Orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestade, e do Rio Niger
Oxum, Orixá feminino dos rios, do ouro, jogo de búzios, e amor.
Iemanjá, Orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade, mãe de muitos Orixás.
Nanã, Orixá feminino dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiê.
Ewá, Orixá feminino do Rio Ewá.
Obá, Orixá feminino do Rio Oba, uma das esposas de Xangô
Axabó, Orixá feminino da família de Xangô
Ibeji, Orixá dos gêmeos
Irôco, Orixá da árvore sagrada, (gameleira branca no Brasil).
Egungun, Ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.
Onilé, Orixá do culto de Egungun
Oxalá, é um nome genérico para vários Orixás Funfun (branco)
OrixaNlá ou Obatalá, o mais respeitado, o pai de quase todos Orixás, criador do mundo e dos corpos humanos
Ifá ou Orunmila-Ifa, Ifá é o porta-voz de Orunmila, Orixá da Adivinhação e do destino.
Oduduwa, Orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.
Oranian, Orixá filho mais novo de Oduduwa
Baiani, Orixá também chamado Dadá Ajaká
Olokun, Orixá divindade do mar
Oxalufon, Orixá velho e sábio
Oxaguian, Orixá jovem e guerreiro
Orixá Oko, Orixá da agricultura
Na África cada Orixá estava ligado originalmente a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais. Sàngó em Oyó, Yemoja na região de Egbá, Iyewa em Egbado, Ogún em Ekiti e Ondô, Òssun em Ijexá e Ijebu, Erinlé em Ilobu, Lógunnède em Ilexá, Otin em Inixá, Osàálà-Obàtálá em Ifé, subdivididos em Osàlúfon em Ifan e Òságiyan em Ejigbô
No Brasil, em cada templo religioso são cultuados todos os Orixás, diferenciando que nas casas grandes tem um quarto separado para cada Orixá, nas casas menores são cultuados em um único quarto de santo (termo usado para designar o quarto onde são cultuados os Orixás).
Efon
Efon ou Efan - é uma nação do candomblé, seus Orixás também são cultuados em outras nações.
Na África a nação ainda existe, mais exatamente em Ekiti-Efon (não confundir com Ifon, a terra de Oxalufon), no Brasil usa-se o termo "Lokiti Efon" e onde reina absoluta a rainha da nação no Brasil, ou seja, Osun, lá ainda cultua-se muitos Orixás que se perderam no caminho para o Brasil. Devido a influência Ketu, a nação de Efon, perdeu um pouco de sua raiz
Ijexá/Ilesa
Ilesa - conhecida também como Ilesha, cidade do sudoeste da Nigéria, no estado de Osun. É um centro comercial e produtor, situado em uma região em que o cacao, os produtos da palma, e os inhames são produzidos e o ouro é minado. Uma comunidade velha de Yoruba, Ilesa era um centro militar principal durante as guerras civis de Yoruba do 19o século. Foi capturado pelos Ingleses em 1893
Ijexá, nação do Candomblé formada pelos escravos vindos de Ilesa na Nigéria, em maior quantidade na região de Salvador, Bahia.
O Babalorixá Eduardo de Ijexá foi o mais conhecido dessa nação. Como Também o Babalorixá Severiano Santana Porto ambos do mesmo orixá LoOgun Edé. a casa do Sr. Severiano Santana Porto ainda resiste ao tempo, depois do seu sucessor o então Babalaxé Sr. Claudionor dos Santos Pereira filho de Oxum. Hoje, encontra-se na direção do Ilê Axé Kalè Bokun a Yalaxé Sra.Estelita Lima Calmon. O Ilê Axé Kalè Bokun
Nagô Egbá /Xangô do Nordeste
Xangô do Nordeste também conhecido como Xangô do Recife, Xangô de Pernambuco ou Nagô Egbá.
Em todo o Nordeste da Paraíba à Bahia, a influência dos Yoruba prevalece a dos Daomé. Esta é a zona mais conhecida quanto às religiões africanas, a que deu lugar a maior número de pesquisas e de trabalhos. Se encontra duas palavras para designá-las, a de Xangô em Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, e de Candomblé na Bahia, esta dualidade de nomes, que não são nomes dados pelos negros, mas sim pelos brancos em virtude da popularidade e importância de Xangô nessa região, e Candomblé por designar toda dança dos negros, tanto profanas como religiosas