CONCEPÇÃO DO MUNDO
ÀIYÉ E ÒRUN
Os Yorubás concebem que a existência transcorre em dois planos:
ÁIYÉ - Compreende o universo físico concreto e a vida de todos os seres naturais que o habitam.
ORUN - É o espaço sobrenatural, o outro mundo. Trata-se de uma concepção abstrata de algo imenso e distante.
Quase todos os autores traduzem Orun por céu ou paraíso, tradução que induz ao erro e tendem a deformar do conceito.
O Orun é concebido como um mundo paralelo ao mundo real que coexiste com todos os conteúdos deste. Cada indivíduo, cada árvore, cada animal, cada cidade etc. possui um duplo espiritual e abstrato.
Os mitos revelam que, em épocas remotas, o Àiyé e o Orun não estavam separados. A existência não se desdobrava em dois níveis e os seres dos dois espaços iam de um a outro sem problemas.
Foi depois de uma violação de interdição que os dois mundos se separaram.
Duas histórias ( Ìtàn ), mantidas vivas pela tradição oral, contam a criação de um terceiro espaço o Sánmò, o céu atmosfera, conseqüência da separação do Àiyé com o Orun.
Uma destas história conta que no tempo em que o Orun limitava-se diretamente com o Àiyé, um rapaz proibido de transpor o limite do Àiyé, desobedeceu esta vontade de Orixalá ou Orixá n'la ou Oxalá ( divindade mestra da criação do ser humano). Este rapaz estando dentro do Orun, desafiou o poder de Òrìsàlá. Apesar de ter sido chamado a atenção várias vezes, o rapaz insistiu até que Òrìsàlá, irritado, lançou seu cajado ritual, o òpásóró, que atravessando todo o espaço do Orun, veio cravar-se no Àiyé separando-o para sempre do Orun, antes do òpásóró retornar às mãos de Òrìsàlá, este, soprou o ar divino ( òfurufú) que se transformou no Sánmò.
É comum referir-se a terra como Àiyé subentendendo-se que Ilê, a terra, não compreende a totalidade do Àiyé e que ao falar de Orun, não se trata apenas do céu, mas de todo o espaço sobrenatural.
Alguns babaláwo ( sacerdotes versados nos mistérios oraculares), descrevem o Orun como composto de nove espaços, sendo cada um destes espaços situados de forma sobrepostos, e o do meio coincidindo com o espaço terra. Os nove espaços do Orun , formam um todo, estão unidos pelo òpó-Òrun, pilar que liga o Orun ao Àiyé.
O Ifátoogun, de Òsogbo, descreve os nove espaços do Orun dando nomes particulares a cada um deles. Verificamos igualmente, que o símbolo nove, aparece também em relação com os mortos e ancestrais e o mito que fala dos nove filhos de Yansã ( Lembrada na saudação - Oyá mesan Orun ). A que divide o Orun em nove.
Independentemente de outras significações, inclusive a da indicação das categorias dos seres sobrenaturais reagrupados em nove compartimentos, podemos notar que de acordo com as crenças yorubanas, o Orun não só ocupa o espaço terra, mas também o contorna por cima e por baixo, abrangendo a totalidade do mundo. Para não deixar a menor dúvida, quanto a simultânea ambigüidade e existência do Orun e do Àiyé, ambos estão fortemente unidos pelo òpó, que em algumas histórias, é substituído por uma cadeia imponente, o èwòn ámúnrò.